Cris: Câncer de Mama

Hoje não é a Phoebe que está aqui com as suas estorinhas, sou eu mesma, para falar um pouco de um assunto que me foi solicitado por diversas pessoas - o câncer de mama. Porém, a quantidade de informação sobre a doença e os devidos tratamentos é enorme, quem sou eu para falar sobre isso com propriedade?

O câncer de mama é uma doença extremamente complexa. Claro que nenhuma doença desta gravidade é simples, mas o câncer parece ser um dos mais complexos. O tratamento é agressivo, causando efeitos colaterais que, além dos danos à saúde geral da mulher, atinge sua autoestima em cheio - ela perde cabelo, engorda, emagrece, tem a pele manchada. E a cirurgia? Preciso comentar sobre os efeitos devastadores da cirurgia sobre o nosso corpo? E é preciso comentar sobre os efeitos devastadores de se ter uma doença potencialmente fatal em nossa cabeça? Vivemos em sobressaltos constantes, a cada nova avaliação. No entanto, muitas de nós sobrevivem. E sabemos que não existe nada de sobrenatural nisso. Não faço parte do grupo de pessoas que acreditam que a cura depende de nós mesmas, de um certo astral alegrinho - conheci mulheres maravilhosas, positivas, fortes.... que morreram de câncer.

A sobrevivência apenas acontece. Eu costumava pensar - pronto, tudo (ou quase tudo) o que poderia ter dado errado, deu - o caminho, daquí para a frente, é só um - para frente, ou para o alto, enquanto eu puder. Se existe um caminho melhor, provavelmente é esse - assumir uma determinada postura frente a essa questão, não exatamente por que postura positiva influencia no comportamentos das células, mas por que esse é o único jeito de sobreviver por inteiro.

Como portadora de uma deficiência, eu me acostumei a lutar contra uma certa atitude (nem todas as pessoas, claro) - a de que eu tenho uma doença. Não, uma deficiência é só o resultado de uma doença. Pois é, agora eu tenho, de fato, uma doença - e agora? Agora não deixo de ter a mesma visão - não gosto que me tratem como se eu fosse uma pessoa doente, até porque não tenho apresentado nenhum sintoma nos úiltimos tempos.

Não posso controlar a reação alheia, posso apenas assumir uma certa atitude, a de gente saudável. Muitas vezes o nosso comportamento determina a reação das pessoas. Nem sempre dá certo, mas é tudo o que se pode fazer. Posso gritar, também... Mas na boa ou no grito, sempre procurei parecer "normal", e por isso eu tenho sempre muita pressa para me recuperar. Um amigo me disse que se preocupa, às vezes, por que gente muito forte e muito valente pode cair com um resfriadinho. É possível que seja essa a imagem que eu ofereço ao mundo, mas na realidade não sou assim tão forte ou tão valente - apenas funciono em outro registro, pois, se estivesse o tempo todo consciente das minhas condições...

Estou, ainda, em processo de reconstrução de mama, o que exige cirurgias múltiplas. Cada uma dessas cirurgias exige um processo um pouco longo de recuperação, especialmente porque eu preciso do braço em ordem para poder andar, e as cirurgias afetam um pouco a movimentação - essa estória de que a mulher que fez mastectomia tem o braço fraquinho o resto da vida não procede, na verdade, e, no meu caso, não dá prá ser. E também não tive linfedema, mas não creio ser por sorte - eu tratei disso de forma eficiente. É aquela mesma estória - se o único caminho possível é o da recuperação, vamos nos recuperar de algum jeito. Por isso eu tenho pressa...

Concluo, então, que a pressa pode ser uma boa coisa. A pressa, não a ansiedade, essa atrapalha, pois cada coisa tem um tempo para acontecer. Algumas pessoas dizem que o meu nível de exigência é demasiadamente alto. Quero a cura, é claro, mas se eu puder abter a cura com um mínimo de sequelas, não é melhor? Por que eu preciso me conformar com menos, tipo - o importante é estar viva, o resto não tem importância? Que o importante é estar viva é um pouco óbvio, não se discute, mas não acredito ser necessário abandonar a qualidade dessa vida. Eu me submetí e ainda me submeto a essas cirurgias múltiplas quase que com alegria, pois há um tempo atrás parecia que as coisas não iriam dar certo. E não é só por vaidade, não que eu pense que vaidade seja uma coisa ruim, mas a reconstução, para mim, representa uma reconstrução do meu ser por inteiro, e não somente de um peito. Não, definitivamente, eu não quero parecer doente! E, se possível, com um mínimo de sequelas...

Ainda não tenho muita prática de falar no blog (a Phoebe é melhor do que eu), mas espero ter ajudado em alguma coisa. Afinal, não criei esse blog só para que a Phoebe fale de seus lindos cabelinhos!

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