CRIS: BE COOL

Estive afastada por um tempo. Andei, com minha prima Miliany, reconfigurando o visual do blog. Ainda não sei fazer muitas coisas, com o tempo vou aprendendo. Mas acho importante postar aqui só o que acho realmente importante.

Nos últimos tempos, tenho me deparado com uma questão bastante relevante por aqui. Muitas vezes, nosso ambiente é um pouco (ou muito) hostil. Não controlamos o outro, numa dada relação, e por mais que isso pudesse satisfazer nossos desejos (egoístas, por sinal), não deveríamos, mesmo se fosse possível. Por que, afinal, humanos são criaturas independentes entre si, não são abelhas numa colméia. Evidentemente, todos nós sonhamos com um mundo ideal, cor de rosa, todos nos amam, e todos que amamos estão sempre presentes e sempre dispostos a nos dar ajuda quando necessitamos, e a nos cobrir de carinho....

Tempos atrás, quando eu estava em quimioterapia, uma vizinha marcava, na sua agenda, o dia em que eu ia ao hospital, de 21 em 21 dias. E nesses dias essa nossa vizinha ligava para cá só para checar se tudo ia bem. A família é grande, até, com uma vinte e poucas pessoas, mas essa vizinha era a única, exceto as que moram aqui, a saber o dia da minha aplicação de quimio, e a única que oferecia ajuda, se necessário. Esse fato me feriu muito, por um tempo, por que a solidão era imensa. O paciente em quimio precisa mais de atenção e companhia do que qualquer outra coisa.

Mas a família tinha um "modus operandi" muito peculiar, estavam habituados com um doente de tempos antigos - repouso, cuidado, não faça isso, não faça aquilo... sabe aquilo de cama e canja de galinha não faz mal a ninguém? Pois eu acredita que pode fazer mal, sim. A luta contra o câncer é, efetivamente, uma luta, e é uma luta ativa, ao cair de cama corremos o risco de uma depressão grave, entre outras coisas. Após a cirurgia foi pior ainda, era difícil para eles compreender e aceitar porquê eu fazia tanto esforço para me recuperar tão rapidamente, correndo o risco, na concepção deles, de lesar alguma coisa por estar "abusando".... Mas nesse mesmo blog já comentei sobre isso - a minha recuperação tem sido perfeita até hoje (porque eu não sei o dia de amanhã) devido a todos esses esforços, incluindo o de procurar conhecer o meu corpo cada dia mais. Eu não sou uma paciente propriamente dita, sou uma dos agentes da minha própria recuperação.

Assim, com a aproximação da família, eu sempre reagia, minhas defesas estavam sempre armadas à minha volta, sempre disposta a combater aquilo que eu acreditava - eu queria ter pessoas à minha volta que me impulsionassem para a frente, que me estimulassem a sempre continuar lutando, e eu achava muito pouco disso. Continuo achando muito pouco. Então, as pessoas se afastaram, um pouco. Hoje eu compreendo melhor isso - as pessoas não reagem como eu quero, daí eu passo a rejeitá-las, e depois eu reclamo que elas se afastaram.... e, claro, acabo por contribuir para a construção desse mesmo ambiente hostil que me incomoda tanto. É possível controlar as pessoas para que tenham a reação que consideramos adequada? Claro que não, podemos ensinar, tentar mostrar, mas no fim, as pessoas compreendem aquilo que compreendem de acordo com o nível de evolução que elas têm. E perceber isso de uma forma verdadeiramente internalizada é um ponto a mais na nossa prórpia maturidade e evolução.

Se o ambiente é hostil, vamos tentar arrumar a casa, mas se não for possível, melhor é nos recolher por um tempo. Lutar contra o câncer requer uma energia que por vezes penso que não tenho. E portanto, não posso gastar energia nenhuma lutando contra as pessoas, até porque as hostilidades atraem as hostilidades que atraem as hostilidades num ciclo insuportavelmente vicioso. Não tenho nenhuma solução fácil, nenhum segredo escondido nas mangas, mas creio que cabe a cada um de nós procurar novas formas de ser diante de velhas situações, evitando perpetuar um estado de coisas que não nos satisfaz.

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